Diário de uma Rapariga com Cancro

É hoje! Hoje é o dia... São 10:15 e estou sentada na sala de espera... Lá está à espera... O medo consome uma pessoa! Está a consumir-me a mim. Todos dizem "têm calma, tudo vai ficar bem, vais ver que o cancro não aumentou" ... Mas e se? E se aumentou? E se foi para outras partes do meu corpo? O medo consome uma pessoa, lá está! Hoje é o dia que vou fazer o pet. O que é isto? Bem basicamente como se fosse uma ressonância magnética mas injetam sacarose na veia para fazer contraste e ver onde está o cancro. Se aumentou, se diminui, se está na mesma. Tenho um feeling que aumentou e normalmente estou certa! Digo isto porque tenho tido dores novamente na coluna e omoplata... E tenho um alto na cabeça. Já fiz exames e não acusou cancro. Mas e se falhou??? Não consigo parar de ter medo e pensar que vai aumentar. Vou estar nesta angústia o resto do dia. Nem sei se o resultado sai hoje quando for à consulta.  Vou estar nesta angústia muito tempo. Esta é mais uma

Cúpulas... Alguém sabe o que é? Já ouviram falar nesse nome? Bem, eu já e sinto-me a cúpula da minha família. O que quero dizer com isto? Sinto que sou aquela que os prende dentro deste mau momento que estou a passar. Sou aquela que não os deixa ir mais além, de experimentar, sair, trabalhar, tudo! Eu sou sem dúvida a cúpula da minha irmã. Sou aquela que a prende a mim e não a deixa sair. Ela poderia estar a fazer a vida dela: trabalhar, estudar,  passear - e não está porque está constantemente preocupada comigo. Não me deixa ir fazer quimioterapia sozinha porque tem medo que algo me aconteça e ela não esteja lá. Por isso ela não trabalha, para poder estar comigo sempre. Por exemplo, na sexta feira (19/05), viemos de comboio para casa para não estarmos 4 horas ou mais à espera da ambulância. Tínhamos imensas mala e coisas porque tivemos 4 semanas seguidas no IPO mais as prendas que compramos em Roma. Ela carregou com quase tudo, enquanto eu só podia olhar e não fazer nada. Quan

  ROMA 2017 Continuo a sofrer muito com a morte do meu amigo Venâncio. O velório dele foi no dia 10 e custou-me tanto vê-lo ali deitado, sem se mover e sem ver o sorriso... a descongelar... ver a dor do irmão dele, a dor da minha irmã... a minha dor! Não acredito que mais um amigo partiu... Ele era tão novo, tão cheio de vida mas (Deus me perdoe) ao menos não sofre mais como ele estava a sofrer. Entretanto já fui a Roma do dia 11 a dia 14 deste mês. Amei, foi tão giro, tudo é lindo e cheio de cor. Soube a pouco. Tinha tanto para ver e nem metade xD tirei muitas fotos (...) Amei a Fontana di Trevi, o Vaticano e Santa Maria Maggiore. O hotel e as ruas foi o que me decepcionou. Porquê? Bem porque as ruas estavam cheias de lixo, não havia quase nenhuns caixotes do lixo. Ás vezes andávamos 1 km e não aparecia nenhum. O hotel? Não tinha água quente (...), o atendimento no restaurante era horrível (a rapariga falava italiano connosco, ia para a curva da rua falar ao telemóvel, manda

Agora que os dias já passara, o vazio foi embora. Graças a Deus!! Hoje foi o dia da mãe e fomos as três passear um pouco. Soube bem, até porque a mãe precisa de sair mais vezes. Fomos até a Valada, o tempo estava ótimo e por isso tirei muitas fotografias. A mãe estava triste hoje e mesmo depois de sairmos ela não ficou bem. Perguntei o que se passava mas ela disse que não era nada. Finalmente, após três tentativas, terminei o meu blog (em termos de aspeto visual). Já o partilhei e está a ter imensas reações positivas. Estou super entusiasmada com este novo projeto!!! Acho que me vai fazer bem e espero poder ajudar alguém também. Perguntaram à minha mãe se ia escrever um livro e a minha mãe perguntou porquê e a senhora disse «Por causa do blog dela. Podia escrever um livro». Vou ser sincera, foi uma ideia que me passou pela cabeça e, sinceramente estou a pensar nisso. Um livro com o meu diário e outro sobre uma história de amor entre dois jovens com cancro. Poderia ser uma tr

Ontem vi um vídeo de uma jornalista muçulmana que estava a falar de genocídio de crianças. Não só na Síria e, em como ninguém fazia nada para ajudar.  Que no mundo da tecnologia todos vêem o que se passa no mundo e nenhum país fazia nada para ajudar. Sentam-se! Discutem! E nada mais!!!! Ela tem toda a razão.... A humanidade está a tornar-se numa coisa má, como se retornássemos aos tempos dos gladiadores ou até recentemente, às Guerras Mundiais. Guerras, guerras e mais guerras. Ponho-me a pensar em como a vida dessas pessoas é pior que a minha. Isso também ajuda a libertar-me dos meus problemas... de algum modo! Queria poder fazer algo por este mundo de ganância, maldade, pessoas mesquinhas, guerras por religiões, doenças impossíveis de curar por antigas catástrofes não naturais. Mas uma pessoa não chega! Ás vezes sinto que não deveria ter nascido neste mundo ou nesta altura. (...) Por outro lado, o que me alegra é a ida a Roma. Estou muito entusiasmada . Escrevi uma carta

Sabem o que me ajuda a atenuar o vazio? Ler! Já não me sentia vazia à algum tempo, mas esta data também não ajuda. Ando assim à alguns dias porque faz um ano! Um ano que tudo começou...Um ano de muitas mudanças drásticas na minha vida. Queria que nunca tivesse acontecido... Quando estou assim, ler ajuda-me porque me faz ir para outras realidades que não a minha, problemas que não são os meus e que quando os leio dá-me vontade de rir. Não quero parecer má ou injusta mas os problemas das histórias são depressões porque um rapaz a deixou ou qual o penteado que vai usar. Fazem disso um drama!! Acabo por me sentir  melhor porque estou a imaginar problemas tão estúpidos e que me fazem fugir da minha realidade. É bom... por uns tempos! Mas e depois?? O vazio volta porque a minha realidade voltou e é constante.  Espero que não seja assim todos os anos. Custa demais! Quero ser a Beatriz de sempre mas estes dias não ajudam. Decidi ontem que vou começar um blog! Vou partilh

Ela pode pensar que não mas eu estou sempre preocupada com ela. Eu disse-lhe «Mana não leves a mal o que te vou dizer, mas tu estás um pouco cheinha e precisas perder peso pela tua saúde e bem estar» e ela respondeu «Quais são as porcarias que eu como? Tu vês que eu não como nenhumas!» e eu disse-lhe que a tinha visto comer ainda esta semana uma porcaria ao pequeno almoço e que à algum tempo atrás já a tinha visto fazer o mesmo.  O que fui eu dizer.... Ficou chateada de tal maneira! Embirrou que o que tinha dito não era verdade quando eu sei que é. Eu disse-lhe que ela provavelmente não se lembrava mas que era verdade, e ela sempre a dizer que não era. Foi discussão tão grande que ela começou a chorar e tudo. Deixei-a acalmar e mais tarde fui falar com ela. Com ela sempre a chorar, expliquei-lhe com calma que realmente já tinha visto e ela sempre a ateimar que não. Ela não se lembra com certeza. Isto também foi muito antes de eu ir para Inglaterra. Eu até tinha comido com el