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29-12-2016 (Parte I)



29/12/2016 (Parte I)

"Só hoje tive coragem para escrever aqui! Se algum dia C, tu leres isto, ficas a saber que te «odeio» por me fazeres escrever nisto :) só a brincar. Acho que me vai fazer bem, apesar de não ter jeito para palavras, nunca tive! Tu és a escritora e eu a ouvinte. Não sei expressar o que sinto, apesar de ser esse o propósito do diário!
Já se passaram 5 dias desde que o tenho e não sei o que escrever!
Neste momento estou numa fase difícil da minha vida. Sinto-me revoltada com tudo e, por vezes, os que mais gosto, sofrem com as minhas explosões. Hoje por exemplo, estou de direta e já é início da noite seguinte e não consigo dormir.
Não sei se é o stress dos trabalhos da escola ou outra coisa que me atormenta. Nem eu sei dizer, sinto uma dor profunda no coração. Uma dor que, por mais que esteja a sorrir, não passa. Esta noite pensei que ia morrer. Mandei mensagens aos que mais gostava, simplesmente a dizer "Amo-te muito <3". A noite toda a ter falhas respiratórias, a ter o coração descompensado, ou seja, por vezes sem bater outras vezes a bater rápido demais.
Recorri a Deus, a Nossa Senhora e ao meu Anjo da Guarda. Tenho feito isso todos os dias, mesmo no hospital. Rezo, não sei, talvez para aliviar a minha alma. Quero dizer, raramente rezo por mim. Rezo pelos que me amam, rezo para que consigam superar a minha morte quando ela chegar e superarem a saudade. Rezo para que sejam saudáveis e felizes, se eu não estiver cá para eles. Quão masoquista isto é certo? Mas ajuda.
Penso muito na minha morte, porque no fundo do meu ser, eu sei que não vou estar cá por muito tempo. Sinto-o tão bem, tal como me chamo Beatriz, tal como sabia que algo não estava bem comigo e sempre disse a palavra "cancro". Nunca ninguém quis acreditar mas a verdade é que tinha razão e senti-o.
Faço-me de forte o tempo todo! O tempo todo! Mas sei que estou a sofrer muito. Esta dor encobre o meu coração, não me deixa ver o "meu futuro". Busco por realizar os meus desejos mas nem isso posso fazer. Não há dinheiro para viagens.
O outro, procurar por amor, também não consigo. O rapaz que gosto não demonstra sinais que quer e eu não dou o passo em frente. Se existe alguém mais perto, ergo muralhas e afasto-os porque também não acho justo ser amada e depois "fugir". Quer dizer, como é possível eu fazer isso? Ter alguém para mim e depois poder morrer? Essa pessoa fica cá a sofrer por mim? Não consigo.
Sinto-me egoísta por pensar tais coisas. Há pessoas piores que eu, morrem de fome, não têm um teto, são escravizadas, maltratadas, violadas, etc etc. Eu só estou doente mas tenho casa, teto, comida, condições hospitalares, familiares e amigos que em amam. Sou realista e sei isso tudo mas... mas... mas...
Queria ser normal, ter uma vida normal, amar e ser amada, festejar, viajar, trabalhar, curtir mais um pouco, namorar, casar, ter filhos, envelhecer... Simplesmente envelhecer, mesmo com todas as coisas más da vida, os problemas diários. Esses sim fazem parte da vida..."
(continua...)

29/12/2016 (Part I)

"Only today I had the courage to write here! If some day C, you read this, you must know that I "hate" you for making me write this :) just kidding. I think it will do me good, although I have no aptness with words, I never had! You are the writer and I am the listener. I can't express what I feel, even though this is the purpose of the diary!
It's been 5 days since I got it and I don't know what to write!
At this moment I'm in a difficult phase of my life. I feel revolted by everything, and sometimes the ones I love the most suffer from my outbursts. Today, for example, I'm direct and it's nearly the next night and I can't sleep.
I don't know if it's the stress of schoolwork or something else that plagues me. Not even I can tell, I feel a deep pain in my heart. A pain that, even though I'm smiling, it doesn't go away. Tonight I thought I was going to die. I sent messages to those I liked more, simply saying "I love you very much <3". All night long to have respiratory failures, to have the heart decompensated, I mean, sometimes without hitting other times to beat too fast.
I prayed to God, to Our Lady and to my Guardian Angel. I've been doing this every day, even in the hospital. I pray, I don't know, perhaps to ease my soul. I mean, I rarely pray for myself. I pray for those who love me, I pray that they will overcome my death when it comes and overcome the fact that they miss me. I pray that they are healthy and happy, if I am not here for them. How masochistic is this right? But it helps.
I think a lot about my death, because deep inside of me, I know I will not be here for long. I feel it as well, like my name is Beatriz, just as I knew something wasn't okay with me and I always said the word "cancer." No one ever wanted to believe but the truth was that I was right and I felt it.
I make myself strong all the time! All the time! But I know I'm suffering a lot. This pain covers my heart, doesn't let me see "my future". I seek to fulfil my desires but I can't do that. There is no money for travelling.
The other, looking for love, I can't either. The boy I like doesn't show signs he wants and I don't take the step forward. If there is someone closer, I put walls and push them away because I don't think it's fair to be loved and then "run away." I mean, how can I do that? Have someone for me and then have the possibility to die? Leave this person here suffer for me? I can't.
I feel selfish for thinking such things. There are people worse than me, who starve, don't have a roof, are enslaved, mistreated, raped, etc., etc. I'm just sick but I have house, roof, food, hospital conditions, family and friends that loved me. I'm realistic and I know all that but ... but ... but ...
I wanted to be normal, to have a normal life, to love and to be loved, to party, to travel, to work, to enjoy a little more, to date, to marry, to have children, to grow old ... Simply aging, even with all bad things in life, daily problems. Those yes are part of life ... "
(continue...)

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