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Como tudo começou (Parte II)



  • 2016

"Fiz a minha primeira visita à GP, que é a médica de família em Inglaterra, em Janeiro de 2016 e expliquei-lhe o que se passava. Mandou-me fazer fisioterapia, disse que estava gorda e precisava perder peso e fazer ioga. O facto de ser gorda é sempre o problema não é? Comecei a fazer fisioterapia. Durante o primeiro mês não resultou mas deixei passar. Ia constantemente à minha GP e a resposta era sempre a mesma. No segundo mês, continuou sem efeito e acabei por desistir. Continuava a ir à GP e a resposta sempre a mesma. Comecei a perder peso, ter sangue na urina e dores cada vez piores, até ao ponto de demorar 10 minutos para me levantar da cama porque a minha coluna parecia que se ia partir. Implorei a minha médica para me fazer umas análises e uma ecografia e ela disse que era muito nova para esse tipo de exame. Irónico não?
Em Abril de 2016, estava em casa de uma amiga, cheia de dores e ela repara na minha omoplata. Estava tão inchada que parecia uma bola de futebol a sair das minhas costas. Fomos às urgências e a partir daí foi quando perceberam que algo não estava bem. Acabei por fazer a tal ecografia no hospital e repararam que o meu osso tinha algo de anormal. Fui dirigida para o departamento de oncologia. A minha primeira consulta foi numa terça-feira, estava aterrorizada. Só a minha irmã sabia que algo se estava a passar porque lhe contei, não aguentei. Não queria que a minha família passasse por algum sofrimento sem eu ter certezas. Mandaram-me fazer muitos exames e regressar duas semanas depois. Dois dias depois, numa quinta-feira, fui para as urgências outra vez. Sintomas? Febre (só tive febre uma vez na minha vida), sangue na urina, vómitos, dores no corpo todo, inchaço na omoplata. Tive entrada imediata. Fui transferida de hospital durante a madrugada e, na sexta-feira de manhã já sabia que tinha cancro. Chorei muito, a minha família chorou muito também. Tive muito apoio dos meus amigos de lá mas o conforto da família faltava. Mandaram-me para Londres no dia 1 de Maio porque, após os exames e biópsia, descobriram que tinha um cancro raro chamado Sarcoma de Ewing na omoplata e com nove ramificações na coluna. Fiz o meu primeiro ciclo de quimioterapia lá e decidi voltar para Portugal. O meu pai veio me buscar.
Atualmente sou seguida no IPO de Lisboa e estou a usar um colete porque uma das minhas vértebras colapsou e faz pressão na minha medula. Posso ficar paraplégica se não o usar e mais, vou ter que continuar tratamentos para o resto da vida. Porquê? Bem, o meu cancro foi uma alteração genética de um cromossoma. Basicamente, decidiu " mudar de lugar", isso fez com que o meu corpo em vez de criar células normais, crie células cancerígenas. Como podem ver, vou ter sempre cancro. Faço uma pausa durante uns tempos e volto sempre a tratamentos.
Bem e agora já sabem um pouco da minha história."

How it all started (Part II) 
  • 2016

"I did my first visit to my GP, which is the family doctor in England, in January 2016 and explained her the reasons. She send me to do some physiotherapy, said I was too fat and needed to lose weight and do some yoga. The fact that a person is fat, is always the problem, right? I started to do physiotherapy. During the first month it didn't work, but I let pass. I went to my GP constantly and the answer was always the same. In the second month, physiotherapy continued without effect and I end up giving it up. Still going to my GP and always with the same answer. I started to lose weight, having blood in my urine and pains started to be worse with time, to the point of taking 10 minutes to get out of bed because my spine looked like it was going to broke. I implored my doctor to do some tests and an ultrasound and she said that I was too young for this type of examination. Ironic, no?
In April of 2016, I was at the house of a friend, full of pain and she notices my shoulder blade. It was so swollen it looked like a soccer ball coming off my back. We went to the emergency room and from there it was when they realized that something was not okay. I ended up doing the ultrasound at the hospital and they noticed that my bone had something abnormal. I was directed to the oncology department. My first appointment was on a Tuesday, I was terrified. Only my sister knew that something was happening because I told her, I couldn't take it. I didn't want my family to go through any suffering without me having certainties. I was told to do a lot of tests and come back two weeks later. Two days later, on a Thursday, I went to the emergency room again. Symptoms? Fever (I only had a fever once in my life), blood in the urine, vomiting, pain in the whole body, swelling in the shoulder blade. I had immediate entry. I was transferred from hospital at dawn and by Friday morning I already knew that I had cancer. I cried a lot, my family cried a lot too. I had a lot of support from my friends there but I didn't have my family there with me. I was sent to London on 1 May because after examination and biopsy they found that I had a rare cancer called Ewing's sarcoma on the shoulder blade and with nine branches in the spine. I did my first cycle of chemotherapy there and decided to go back to Portugal. My father came to pick me up.
I'm currently being followed at the Lisbon IPO and I'm wearing a vest because one of my vertebrae has collapsed and puts pressure on my spinal cord. I can become paraplegic if I do not use it and more, I will have to continue treatments for the rest of my life. Why? Well, my cancer was a genetic alteration of a chromosome. Basically, decided to "change places", this caused my body instead of creating normal cells, create cancer cells. As you can see, I will always have cancer. I pause for a while and always return to treatments.
Well now you know a little about my story."

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